quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Ricos e Pobres, Indiferença, (atribuído a Bertolt Brecht)

Primeiro levaram os comunistas, Mas eu não me importei Porque não era nada comigo. Em seguida levaram alguns operários, Mas a mim não me afectou Porque eu não sou operário. Depois prenderam os sindicalistas, Mas eu não me incomodei Porque nunca fui sindicalista. Logo a seguir chegou a vez De alguns padres, mas como Nunca fui religioso, também não liguei. Agora levaram-me a mim E quando percebi, Já era tarde.

domingo, 25 de junho de 2017

"Egoísta". Dez 2016

Ilustração para a revista "Egoísta" – Dezembro de 2016.

"Desnorte – Dar a Luz"

Ilustração para o conto "Dar a Luz", que integra o livro "Desnorte" (Publicações Dom Quixote, 2016).

"Danos morais" – por Rui Zink

Sobre a decisão do Tribunal de Instrução de Lisboa, na passada Sexta-Feira (23/06/2017) que iliba Inês Pedrosa e encerra o processo em que estava acusada, o escritor Rui Zink escreveu no seu Facebook pessoal o seguinte texto :

"DANOS MORAIS

Estou contente: o pesadelo de uma amiga minha chegou ao fim. Estou triste: outras pessoas estão a viver pesadelos bem piores.

Penso no jovem que tentou surripiar um poster na Coreia do Norte e foi condenado a 15 anos num grotesco tribunal que está em vídeo (está no youtube, não me apetece passá-lo aqui) onde foi induzido a humilhar-se pelo Grande Pecado que cometeu, sequestrado por um Estado como por uma organização embuçada, daquelas onde o prisioneiro admite todos os crimes e mais alguns. O jovem foi brutalizado e, por cínicas «razões humanitárias» agora o regime despachou-o para os EUA e, em coma, ele acabou por morrer. A tortura abjecta: para ele, para a família. Muita gente troçou do jovem por ter cometido «tamanha estupidez». A estupidez dele terá sido tamanha, mas ele tem uma desculpa: era jovem (logo, pontualmente desmiolado) e roubou um poster. Mesmo admitindo a loucura draconiana da Coreia do Norte, esperar-se-ia 15 dias de prisão, pronto, não 15 anos. Qual é a vossa desculpa, ó censores apressados dos erros dos outros mas que, quando vos toca, é outra música?

Sofrer uma acusação falsa é repugnante. Ela ser anulada, mesmo que passados três anos, é algum consolo: uma espada de Dâmocles que sai de cima da cabeça. Entretanto, os estragos foram feitos. E muita gente (Portugal também é um cantinho de risos escarninhos) a-do-rou. Traz prejuízos à honra, ao bolso, à identidade. A dada altura, uma pessoa já acredita que alguma terá feito – e busca nas meninges o tal momento da «Kulpa». O que fiz de errado? Terei mesmo metido água, como dizem?

Claro que «danos morais» pouco são relativamente aos danos reais. São apenas um zumbido desgastante, não o horror kafkiano por que passou o jovem Otto Warmbier. Imagino ainda que grande parte da angústia dele fosse a dor que sabia estar a infligir aos pais. Essa é uma dor extra: não só a que sentimos mas a que infligimos aos que mais nos querem. E houve quem troçasse do moço; talvez no mínimo devesse agora rezar-lhe um pedido de desculpas.

Ontem as acusações de «abuso de poder» à escritora Inês Pedrosa enquanto directora da Casa Pessoa foram declaradas nulas. E é sabido que, para muita gente, «suspeitas» verdades puras são, não enganos. Portanto, alguma mancha fica, nem que seja na cabeça de terceiros. E os estragos estão feitos. Em vez de medalha pelo serviço, teve olhares de lado durante três anos. Mas o pesadelo miudinho acabou, a pessoa em questão tem carácter e, felizmente, neste caso a vida continua."